Bissau,14 Fev 20(ANG) - O movimento independentista
de Casamansa (Senegal) acusou quinta-feira políticos senegaleses e guineenses
de estarem a prejudicar a estabilidade política na Guiné-Bissau para
concretizar o acordo da Zona Económica Conjunta (ZEC) sobre exploração
petrolífera.
Em
declarações à Lusa por telefone, Pape
Famara, membro do Movimento
das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC), disse que há
responsáveis políticos de Dakar e Bissau que querem "prejudicar
a situação de estabilidade política na Guiné-Bissau para poderem avançar com o
que querem".
Esta
semana, uma das concessionárias para a exploração de petróleo na zona, cujas
receitas são partilhadas pelo Senegal (85%) e a Guiné-Bissau (15%), anunciou
que tenciona fazer prospeção ainda em 2020.
A
parte do Senegal na ZEC é reivindicada pelos rebeldes, em guerra civil com
Dakar, desde 1990, reclamando a independência do território, no sul do país,
entre a Gâmbia e a Guiné-Bissau.
"Este
não é o momento para fazer avançar" o dossiê do petróleo, "porque
esta não é a solução para a crise" na região, afirmou Pape Famara.
"É
preciso que o Senegal discuta com Casamansa uma solução para o problema antes
de falar sobre petróleo",
sublinhou o ativista.
Segundo
o independentista Pape Goudiaby Famara, o movimento "está atento ao que se está a
passar" na Guiné-Bissau, um país que vive numa situação de tensão
política, depois das eleições presidenciais de dezembro de 2020, que deu a
vitória a Umaro Sissoco Embaló, ainda não estarem validadas pelo Supremo
Tribunal de Justiça.
Sissoco
Embaló tem-se apresentado como aliado e "amigo
pessoal" de Macky Sall, Presidente do Senegal.
O
ainda Presidente guineense, José Mário Vaz, denunciou formalmente o acordo a 29
de dezembro de 2014, propondo ao Senegal a reabertura de negociações para
fixação de novas bases de partilha, aumentando as receitas para Bissau.
Várias
personalidades da sociedade guineense, entre as quais o ex-chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas Zamora Induta, defendem que as negociações
devem ser suspensas até que o Senegal aceite renegociar a delimitação de
fronteiras marítimas e terrestres.
Até
ao momento não se conhecem resultados relativas às negociações pedidas por José
Mário Vaz.
Na
terça-feira, a canadiana OP AGC Central Lda, uma das duas empresas estrangeiras
que detêm as seis licenças de prospeção do petróleo na zona de exploração
conjunta (ZEC), constituída entre a Guiné-Bissau e o Senegal, esteve reunida
com entidades públicas e privadas e autoridades tradicionais das regiões de
Cacheu, Bolama, Biombo e Bissau.
Em
declarações à Lusa, Mamadou Samba, consultor senegalês ao serviço da OP AGC,
disse que o objetivo é iniciar a prospeção de petróleo ainda em 2020, estando
em curso a auscultação das populações para depois elaborar um documento de
avaliação do impacto ambiental.
Para
o MFDC, "não é agradável que o Senegal assine
acordos com a Guiné-Bissau para a zona de Casamansa com os quais os habitantes
não estão de acordo".
A
Zona Económica Conjunta (ZEC) foi constituída em 1993, após disputas nos
tribunais internacionais entre a Guiné-Bissau e o Senegal e comporta cerca de
25 mil quilómetros quadrados da plataforma continental.
Com
a sede em Dakar, Senegal, a ZEC é considerada rica em recursos haliêuticos,
cuja exploração determina 50% para cada um dos Estados e ainda hidrocarbonetos
(petróleo e gás), mas ainda em fase de prospeção.
A
Guiné-Bissau dispensou 46% do seu território marítimo para constituir a ZEC e o
Senegal 54%.
As
receitas futuras da exploração de petróleo, segundo o acordo em vigor, serão
divididas entre o Senegal (85%) e a Guiné-Bissau (15%).ANG/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário