“Condenação de Habré é veredicto histórico contra
impunidade em África”, diz AI
Bissau, 31
Mai 16 (ANG) - O acórdão divulgado, segunda-feira em Dakar (Senegal),
condenando o ex-Presidente tchadiano, Hissene Habré, à prisão perpétua, “marca
uma viragem decisiva para a justiça internacional e um imenso alívio para
dezenas de milhares de vítimas que esperavam por este dia há mais de 25 anos”,
aplaudiu a Amnistia Internacional (AI) num comunicado publicado no mesmo dia.
No termo do julgamento aberto em Julho
último, as Câmaras Africanas Extraordinárias em Dakar condenaram Hissene Habré
à reclusão perpétua, devido a acusação de crimes contra a humanidade, crimes de
guerra e actos de tortura cometidos durante o seu mandato à frente do Tchad
entre 1982 e 1990.
As Câmaras Africanas Extraordinárias
rejeitaram por outro lado a apreensão dos ativos do réu durante o julgamento.
"Este veredicto prova que, quando
há vontade política, os Estados podem colaborar eficazmente para porem termo à
impunidade em situações mais complicadas", regozijou-se Gaetan Mootoo,
pesquisador sobre a África Ocidental na AI.
A seu ver, são momentos como estes que
podem inspirar outras vítimas, ou mesmo incitar a União Africana (UA) e cada
Estado africano a seguir este exemplo.
Lembra-se que processo judicial contra
Hissene Habré arrancou no Senegal a 20 de Julho de 2015, graças a depoimentos
de 69 vítimas, 23 testemunhas e dez peritos, e que a acusação se baseou em
relatórios de pesquisa divulgados pela AI em 1980.
Este combate à impunidade foi longo e
duro, registando, no seu desenrolamento, duas das vítimas mortas, registadas no
intervalo, e cujos filhos e famílias poderão finalmente alegrar-se com o
acórdão do tribunal.
Esta primeira jurisdição de
"competência universal", sediada num Estado africano, e que
desembocou no julgamento e condenação dum ex-chefe de Estado africano,
perseguido por crimes de direito internacional lança primícias para iniciativas
que visem pôr termo à impunidade em África, considera a AI.
Hissene Habré tem o direito de
interpor recurso da sua condenação pelas Câmaras Africanas Extraordinárias que
devem igualmente proceder a audiências dedicadas a compensações e instaurar um
fundo para todas as vítimas que tenham ou não participado no julgamento.
Para a AI, iniciativas que visem
remediar a impunidade por crimes cometidos no Tchad não devem parar aqui.
“Importa manter a pressão no Tchad e
mesmo noutros Estados, para inquirir outras pessoas acusadas de graves
atentados contra os direitos humanos entre 1982 e 1990, nomeadamente massacres
cometidos em Setembro de 1984 no sul do país", indicou Gaetan
Moottoo.
ANG/Angop
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