Ataque israelita a alvos
iranianos na Síria eleva tensão regional
Bissau, 20 nov 19 (ANG) - Um
ataque aéreo israelita a alvos iranianos na Síria pode levar à mais tensão
entre Israel e o Irã, em meio a uma crise política em Israel e a críticas
internacionais quanto à decisão americana de reconhecer os assentamentos
israelitas em territórios palestinos.
Na madrugada desta
quarta-feira (20), bombardeiros aéreos israelitas atingiram os arredores da
capital síria, Damasco, contra alvos iranianos, em resposta a quatro mísseis
iranianos lançados contra Israel horas antes.
O ataque, que matou pelo menos 11
"combatentes", pode levar a uma escalada na tensão entre Israel e
Irã. A fronteira Norte entre Israel e Síria, que passou quatro décadas em
relativa calma, se tornou um campo de batalha por causa da guerra civil na
Síria.
A situação
levou o governo do presidente Bashar al-Assad a buscar apoio do Irã que, por
sua vez, enviou tropas para o país.
Contrariado, Israel tem atacados alvos do
Irã em solo sírio para evitar o que acredita ser uma infiltração iraniana no
país – sem contar a tensão nas fronteiras ao Sul, com confrontos entre
Israel e o grupo islâmico Hamas.
Tudo isso acontece em meio à maior crise política da
história de Israel. Após dez anos no poder, o primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu tenta se manter no cargo após duas eleições em menos de seis meses,
que não levaram a um vencedor concreto. O premiê teve um mês para tentar formar
um governo, mas não conseguiu.
Nesta quarta, termina o prazo para que o líder do
partido Azul e Branco, general da reserva Benny Gantz, também tente formar um
governo. Além disso, Netanyahu enfrenta um possível indiciamento por corrupção,
nos próximos dias.
Em meio a esse contexto conturbado, o
reconhecimento americanos dos assentamentos israelenses na Cisjordânia é uma
boa notícia para o premiê. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo,
anunciou nesta segunda-feira (18) que, sob ponto de vista americano, as
colônias israelenses na Cisjordânia não são ilegais.
A postura contradiz a visão da maioria dos países do
mundo e de instituições internacionais e reverte a política americana das
últimas décadas sobre os assentamentos, onde vivem cerca de 400 mil israelitas e 2,5 milhões de palestinos.
Benjamin Netanyahu aplaudiu o anúncio: disse que se
trata de uma "política que corrige um erro histórico", já que, para
ele, o povo judeu não é um colonialista estrangeiro na Judeia e na Samaria –
nomes em hebraico da Cisjordânia.
“De fato, somos chamados de judeus porque somos o povo
da Judeia”, escreveu o premiê, em um comunicado. Já Saeb Erekat,
secretário-geral da Organização para Libertação da Palestina, a OLP, disse que
a decisão é uma tentativa do governo Trump de "substituir o direito
internacional” pelo que chamou de “lei da selva.”
Na comunidade internacional, a decisão americana gerou
mais reações contrárias do que a favor. A maior parte do mundo vê a expansão
dos assentamentos israelenses como um impedimento para um acordo de paz com os
palestinos.
Os palestinos almejam criar um Estado independente na
Cisjordânia – juntamente como Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza. Mas os mais
de 130 vilarejos espalhados na Cisjordânia atrapalhariam esse plano.
O chanceler jordaniano Ayman Safadi, por exemplo,
disse que a decisão americana “mata a solução de dois Estados para dois povos”,
como é chamada o plano de criação de um Estado palestino ao lado de Israel. A
ONU afirmou que as colônias israelenses na Cisjordânia continuam sendo ilegais,
assim como a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
O candidato democrata à presidência americana, Bernie
Sanders, declarou que, com a decisão, Donald Trump isola ainda mais os Estados
Unidos do resto do mundo. Mas alguns aliados do primeiro-ministro israelitas não condenaram a decisão.
O governo húngaro, por exemplo, barrou a emissão de um
comunicado conjunto dos 28 países da União Europeia, que condenaria o anúncio
americano.
Há controvérsias, mas, em geral, a comunidade
internacional afirma que os assentamentos são ilegais. A Assembleia Geral e o
Conselho de Segurança das Nações Unidas, além do Tribunal Internacional de
Justiça em Haia e outros fóruns internacionais, dizem que os assentamentos
israelitas na Cisjordânia violam a Quarta Convenção de Genebra.
O documento sustenta que um país ocupante "não
deve transferir partes de sua própria população civil para o território que
ocupa". Desde 1967, após a Guerra dos Seis Dias, Israel capturou a
Cisjordânia da Jordânia e milhares israelitas foram morar na região.
A Suprema Corte de Israel considera que as colônias
são ilegais e a esquerda israelita concorda com a opinião internacional de que
é preciso desocupar esses assentamentos para haver a chance de firmar qualquer
acordo de paz com os palestinos.
Entretanto, para a direita israelita, não se trata de
uma ocupação porque a Liga das Nações, em 1922, reconheceu o direito histórico
do Povo Judeu a esse território, do qual foi expulso há dois mil anos pelo
Império Romano. Eles dizem também que a Cisjordânia foi conquistada
legitimamente após uma guerra e Israel deveria ter anexado o território há
décadas.
Concretamente, o anúncio americano não faz diferença
para um lado ou o outro – mas, do ponto de vista simbólico, é mais uma prova de
que o governo Donald Trump se alinhou a Israel, assim como demonstrou a
transferência da embaixada americana para Jerusalém.
Neste cenário, Washington não poderia mais atuar como
moderador do conflito com os palestinos. ANG/RFI
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