João Lourenço investido como terceiro Presidente da República
Bissau, 26 Set 17 (ANG) - João Lourenço, general na reserva, de 63 anos,
foi hoje investido no cargo de Presidente da República de Angola, o terceiro
que o país conhece desde a independência, em novembro de 1975.
O ato, presenciado por convidados nacionais e
internacionais e milhares de populares, decorreu no Memorial António Agostinho Neto,
em Luanda, no mesmo local e dia (26 de setembro) em que José Eduardo dos Santos
foi investido pela última vez como chefe de Estado Angolano, após as eleições
de 2012.
A cerimónia, que contou com a presença de cerca de
duas dezenas de chefes de Estado e do Governo foi orientada pelo juiz
conselheiro presidente do Tribunal Constitucional, Rui Ferreira, que proclamou
a eleição de João Lourenço e de Bornito de Sousa para os cargos,
respetivamente, de Presidente e vice-Presidente angolanos.
João Lourenço prestou juramento à nação, com a mão
direita sobre a Constituição da República de Angola, assinando o termo de
posse, cinco minutos depois.
Já investido nas funções de novo presidente da
República, João Lourenço deslocou-se ao local onde se encontrava o Presidente
cessante, José Eduardo dos Santos, para este lhe colocar o colar presidencial e
lhe ceder o lugar, o que aconteceu pouco depois.
O ato marcou a saída do poder de José Eduardo dos
Santos, que liderava o país desde 1979 - o segundo Presidente há mais tempo no
poder em todo o mundo - e que não se recandidatou ao cargo nas eleições de 23
de agosto último.
A cerimónia terminou com o desfile dos três ramos
das Forças Armadas Angolanas, seguindo-se a execução do hino nacional e
disparos de 21 salvas de canhão.
João
Lourenço pretende ficar na história do
país pelo papel na recuperação económica através de uma reforma ao estilo do
dirigente chinês Deng Xiaoping.
Eleito a 23 de agosto com pouco mais de 61por cento
dos votos, perdendo 25 deputados no parlamento face às eleições anteriores, e
com o país mergulhado numa profunda crise financeira e económica, o antigo
general pretende ser reformador ao estilo Deng Xiaoping, rejeitando a
classificação de "Gorbachev angolano", por suceder à prolongada
liderança de José Eduardo dos Santos.
"Reformador? Vamos trabalhar para isso, mas
certamente não Gorbachev, Deng Xiaoping, sim", afirmou João Lourenço, que
nasceu no Lobito, litoral centro de Angola, a 05 de março de 1954.
Deng Xiaoping foi secretário-geral do Partido
Comunista Chinês e líder político da República Popular da China entre 1978 e
1992, tendo criado o designado socialismo de mercado, regime vigente na China
moderna e que posteriormente foi adaptado MPLA para Angola.
Primeiro Presidente angolano a chegar ao cargo sem
ter combatido na guerra colonial, o general, de 63 anos, até construiu uma
parte do seu percurso no MPLA de arma na mão.
Apesar de não ter chegado a combater diretamente o
regime português - acabara de completar 20 anos quando se dá a revolução dos
cravos em Portugal -, viveu a oposição ao colonialismo ainda criança ao ver o
pai detido na cadeia São Paulo, em Luanda, entre 1958 e 1960, acusado de
atividade política clandestina, enquanto enfermeiro do porto do Lobito.
Pouco antes da proclamação da independência
angolana, feita em Luanda, pelo Movimento Popular de Libertação de angola
(MPLA), a 11 de novembro de 1975, João Lourenço inicia a carreira militar na
República do Congo, tendo feito a sua primeira instrução político-militar no
Centro de Instrução Revolucionária de Kalunga.
Hoje general na reforma, e até julho passado
ministro da Defesa Nacional, João Lourenço integrou o primeiro grupo de
combatentes do MPLA que entraram em território nacional via Miconge, em direção
à cidade de Cabinda, após a queda do regime colonial português.
Depois de participar em vários combates na
fronteira norte, no período de guerra civil que se seguiu à proclamação da
independência, João Lourenço ainda fez formação em artilharia pesada e exerceu
funções de comissário político em diversos escalões, antes de partir para a
então União Soviética.
É nesse processo de qualificação das Forças Armadas
Populares de Libertação de Angola (FAPLA) que entre 1978 e 1982 reforça a sua
formação militar, além de obter o título de mestre em Ciências Históricas, pela
Academia Político-Militar V.I. Lenine.
De novo em Angola, assume entre 1982 e 1990 vários
cargos militares, envolvendo-se em diversos combates contra as forças da UNITA,
sobretudo no centro do país, até ascender a general das FAPLA. Inicia então um
percurso político dentro do MPLA que o levaria até secretário-geral do partido,
entre 1998 a 2003.
Com José Eduardo dos Santos, Presidente angolano e
líder do partido desde 1979, a anunciar a intenção de deixar o poder com o fim do
conflito armado (2002), João Lourenço posicionou-se na corrida à sucessão, o
que lhe valeu uma longa travessia no deserto, depois de José Eduardo dos Santos
decidir manter-se no poder.
A reabilitação política aconteceu em abril de 2014,
quando é nomeado por José Eduardo dos Santos para ministro da Defesa Nacional,
culminado com a eleição, em congresso, em agosto de 2016, como vice-presidente
do MPLA, antecedendo a sua entrada na corrida eleitoral para chefe de Estado
angolano.
João Manuel Gonçalves Lourenço é casado e pai de
seis filhos, tendo como passatempo a leitura, o xadrez, e a equitação e é
apaixonado pelas novas tecnologias de informação.
Fala inglês, russo e espanhol, mas será em
português que ainda terá de se entender com José Eduardo dos Santos, de quem
recebe o poder e que continua a ser presidente do MPLA, partido que suportará a
governação de João Lourenço.
"O Presidente Dos Santos é uma personalidade
muito respeitada, tanto dentro do partido como por um conjunto da sociedade e
não é anormal que o presidente do partido no poder não seja ele próprio o
Presidente da República. Apenas para citar um caso, Donald Trump é o Presidente
dos Estados Unidos mas não do Partido Republicano", afirmou, por seu
turno, João Lourenço. ANG/Lusa
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