"Lava
Jato" foi manobra para afastar Lula do poder, diz "The
Intercept"
Bissau, 11 jun 19 (ANG) - A edição brasileira do
jornal on-line de investigação "The Intercept" começou segunda-feira
a publicar os primeiros capítulos de um inquérito com base em fugas de
informação dando crédito à possibilidade de que os procuradores que conduziram
a vasta operação anticorrupção "Lava Jato" tenham secretamente colaborado
com o conhecido juiz Moro, com vista
nomeadamente a impedir o regresso do ex-presidente Lula ao poder, acusações
logo desmentidas pelos interessados.
Procuradores do caso "Lava Jato" |
Produzidas, segundo o site de investigação
jornalística, a partir de mensagens privadas, gravações áudio, vídeos, fotos,
documentos judiciais e outros dados transmitidos por uma fonte anónima, as três
primeiras reportagens publicadas sustentam a tese segundo a qual o actual
Ministro da Justiça do Brasil, o antigo juiz Moro, teria deixado de parte a obrigação
de imparcialidade ao fornecer indicações e conselhos aos procuradores da
operação "Lava Jato" no respeitante ao antigo presidente Lula da
Silva.
Nestas reportagens, "The Intercept" divulga
nomeadamente mensagens que teriam sido trocadas entre os procuradores falando
abertamente do intento de afastar Lula da corrida às presidenciais do ano
passado no Brasil, uma eleição em que era inicialmente dado como favorito.
Estas mensagens, segundo "The Intercept",
revelam ainda que alguns membros da acusação tinham dúvidas sobre a
eventualidade de ter provas suficientes para condenar Lula que actualmente está
a cumprir uma pena de prisão de 8 anos e 10 meses -uma pena recentemente
revista- após ter sido considerado culpado num caso de obtenção de um apartamento
de luxo a troco de favores políticos.
A serem confirmados, estes comportamentos que
"The Intercept" qualifica de "antiéticos" podem constituir
segundo o site informativo um "escândalo generalizado" envolvendo
"diversos oligarcas, lideranças políticas, os últimos presidentes e até
mesmo líderes internacionais acusados de corrupção", refere ainda o
jornal.
Reagindo em
comunicado, ao alegar que os dados publicados foram obtidos através de
pirataria informática, a equipa de procuradores do "Lava Jato" refere
que "nenhum pedido de esclarecimento ocorreu antes das publicações, o que
surpreende e contraria as melhores práticas jornalísticas".
Utilizando o mesmo argumento no Twitter, o Ministro da Justiça, Sérgio
Moro, lamenta quanto a si "a falta de indicação de fonte de pessoa
responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores" e
considera ainda que no conteúdo das mensagens em que é citado "não se
vislumbra qualquer anormalidade ou direccionamento da sua actuação enquanto
magistrado".
Minimizando também a alçada destas revelações, o
antigo Presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso falou quanto a si em
"tempestade num copo de água". Já do outro lado do xadrez político,
Fernando Haddad, antigo candidato às presidenciais no ano passado pelo PT após
a inviabilização da candidatura de Lula, reclamou a abertura de um inquérito
sobre aquilo que a seu ver "poderia ser o maior escândalo institucional da
República".
A publicação destas informações poderia contudo ainda fazer
escorrer muita tinta. Na sua nota de preâmbulo, o jornalista americano e
co-fundador do "The Intercept", Glenn Greenwald, que já no passado
publicou as revelações de Edward Snowden sobre os serviços de segurança
americanos, avisou que "esse é apenas o começo do que se pretende tornar
uma investigação jornalística contínua das acções de Moro" e dos outros
intervenientes da operação "lava jato". ANG/RFI
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