Morrer vira
"solução" para sair da crise e
número de suicídios explode
Bissau, 14 jun 19 (ANG) - A crise económica e política que
atinge a Venezuela tem provocado estragos em vários âmbitos da sociedade.
O país, que sofre de uma inflação galopante, violência nas ruas
e pobreza extrema, vem registando os maiores números de suicídio do continente
americano.
Desde o ano passado, com a agravamento da crise, a Venezuela
enfrenta uma alta nos índices de suicídio. O número de pessoas que tiraram sua
própria vida quadruplicou nos últimos quinze anos e o fenómeno vem se
acelerando. Quase 800 casos foram registrados apenas na capital Caracas em
2018.
“A cada semana recebemos, em média, quatro novos casos de
pacientes com pensamentos suicidas”, conta Marisol Ramirez, presidente da rede
nacional Psicólogos Sem Fronteiras, um dos serviços que, junto com a Federação
dos Psicólogos da Venezuela, criado no ano passado, oferecem atendimento
acessível para a população.
Segundo a psicóloga, é cada vez maior o número de pessoas que
veem na morte uma possível solução para seus problemas. “Os pacientes dizem: se
eu estivesse morto, minha família não teria mais que se cansar para encontrar
remédios e cuidaria dos meus filhos. Elas vivem pensando que podem ser
assassinadas, que podem morrer...”, conta Marisol. “As pessoas falam da morte
com tanta naturalidade. Parece até ser uma opção como outra qualquer”, continua
a psicóloga.
O que mais impressiona a presidente da Psicólogos Sem Fronteiras
é o aumento de menores entre seus pacientes. “Já recebemos crianças que diziam
que a mãe tinha se refugiado no exterior, que não queriam morar com tias
ou avós e, por isso, tinham vontade de morrer”, relata.
“Essa semana mesmo recebemos duas crianças que não sabiam como
fazer a lição de casa em razão dos cortes de electricidade que atrasaram os
programas escolares. As famílias estavam muito preocupadas, pois os filhos
disseram que a solução seria morrer. A gente constata que, aos poucos, a ideia
da morte se banaliza na sociedade venezuelana”, analisa a psicóloga.
Apesar dessa constatação, o termo suicídio ainda é um tabu no
país. As autoridades acusam os que ousam usar essa expressão de fazerem
apologia à morte. Uma maneira indireta de não reconhecer um dos sintomas das
dificuldades enfrentadas atualmente pela sociedade venezuelana. ANG/RFI
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