Yahya Jammeh
acusado de violações e abusos sexuais
Bissau, 29 jun 19 (ANG) – Um relatório elaborado pela Human
Rights Watch em parceria com a ONG suíça TRIAL International, apresentado
quarta-feira em Dakar, no Senegal acusa o antigo ditador da Gâmbia, Yahya Jammeh de
ter obrigado mulheres a manter relações sexuais com ele, usando a força ou
pressões morais e financeiras, enquanto esteve no poder, entre 1994 e
2017.
Este documento que assenta nas denúncias de pelo menos 3
mulheres, baseia-se também nos testemunhos de antigos colaboradores do
ex-presidente que se encontra actualmente a viver na Guiné equatorial desde
2017.
Durante a apresentação do relatório em Dakar, a Human Rights
Watch referiu que Jammeh "tratou as mulheres gambianas como se fossem
objectos". De acordo com os defensores dos Direitos Humanos, o
ex-presidente e alguns dos seus antigos colaboradores recorreram à
"coerção, impostura e violência" para obter favores sexuais, sendo
que havia represálias contra as mulheres que recusavam ceder às pressões do
antigo ditador.
Entre as alegadas vítimas citadas no relatório, encontra-se
Fatou Jallow, a única que optou por testemunhar em nome próprio. Ela refere que
em Dezembro de 2014, então com 18 anos e recém-eleita "rainha de
beleza" num concurso transmitido na televisão, foi convidada durante 6
meses em diversas ocasiões por Jammeh que lhe ofereceu presentes e a pediu em
casamento, o que ela recusou. Em Junho de 2015, de acordo com a jovem, o antigo
presidente fechou-a numa das divisões do seu palácio, ameaçou-a de morte,
injectou-lhe uma substância, imobilizou-a e em seguida violou-a. Poucos dias
depois, ela acabou por fugir para o Senegal.
Duas outras mulheres que testemunharam anonimamente indicam
igualmente ter sido alvo de abusos sexuais. Uma quarta mulher, Fatoumata
Sandeng, cantora conhecida em 2015 e filha de um opositor, afirma ter sido
forçada por colaboradores de Yahya Jammeh a deslocar-se para a aldeia dele, só
tendo tido a possibilidade de sair do seu hotel ao fim de três dias sem ter
tido nenhum contacto com ele. Fatoumata Sandeng acredita que a intenção teria
sido de a "apanhar numa armadilha".
Ainda de acordo com o relatório , neste esquema em que o
Presidente também contratava "protocol girls", jovens mulheres que
trabalhavam como assistentes mas que acabavam invariavelmente por ser alvo de
abusos sexuais, Yahya Jammeh era ajudado por Jimbee Jammeh, uma prima, que
tinha a responsabilidade de recrutar e vigiar as alegadas vítimas.
Yahya Jammeh que, para além dos abusos sexuais denunciados, é acusado pelo actual governo do
seu país de ter desviado pelo menos 362 milhões de Dólares, é suspeito também
de ter mandatado execuções sumárias, torturas, perseguições a opositores e
jornalistas e outros atropelos durante os 22 anos em que esteve no poder.
Chegado à presidência da Gâmbia através de um golpe de Estado,
Jammeh saiu do poder sob pressão regional, depois de uma crise pós-eleitoral provocada
pela sua recusa em reconhecer a sua derrota nas presidenciais de 2016. Desde
esse período, encontrou refúgio na Guiné-Equatorial.
Em 2018, foi instituída uma Comissão Verdade e Reconciliação
(TRRC) para investigar os presumíveis crimes cometidos pelo antigo ditador.
Neste mês de Junho, esta entidade composta por 11 comissários independentes
encetou a sua quinta serie de audiências, estando previstas sessões dedicadas
às violências sexuais.
Antes do início dos trabalhos desta comissão, o actual Presidente
da Gâmbia, Adama Barrow, indicou que iria esperar pelo fim da investigação da
TRRC para se pronunciar quanto a um pedido de extradição. Para Reed Brody,
conselheiro jurídico e porta-voz da Human Rights Watch, Yahya Jammeh tem de ser
extraditado e julgado na Gâmbia. ANG/RFI
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