ONU/Assembleia geral apoia pagamento de compensações de guerra pela Rússia
Bissau, 15 Nov 22(ANG) – A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou segunda-feira uma resolução que considera a Rússia responsável pela violação da lei internacional devido à invasão da Ucrânia e que inclui o pagamento de compensações de guerra.
O texto, impulsionado por Kiev e
alguns dos seus aliados, foi aprovado por 94 votos a favor, 14 contra e 74
abstenções, entre os 193 Estados-membros com assento no conclave. Este foi o
mais baixo nível de apoio entre as cinco resoluções já adoptadas pela
Assembleia Geral da ONU desde a invasão russa ao país vizinho, em 24 de
Fevereiro.
A resolução, que não é vinculativa,
solicita o estabelecimento de um mecanismo internacional para as reparações e
recomenda o estabelecimento de um registo internacional de danos durante o
conflito.
O texto também se escusa em
desencadear um processo para as compensações no âmbito da ONU, limitando-se a
apoiar essa ideia e a “recomendar” à Ucrânia, com apoio de outros países, que
elabore um registo dos danos provocados pela guerra.
“A Ucrânia terá a enorme tarefa de
reconstruir o país e recuperar desta guerra, mas essa recuperação nunca será
completa sem um sentido de justiça para as vítimas da guerra russa. Chegou a
hora de exigir responsabilidades à Rússia”, disse o embaixador ucraniano,
Sergiy Kyslytsya na apresentação do documento.
A Rússia opõe-se firmemente a esta
iniciativa e contou com o apoio na rejeição do texto de países como a China,
Irão, Cuba, e outros apoios mais habituais nas Nações Unidas, como a Síria,
Coreia do Norte ou Nicarágua.
O embaixador russo, Vasili Nebenzia,
considerou no período de debate que esta proposta não é válida na perspetiva do
direito internacional e poderá significar uma tentativa de “expropriação ilegal
de ativos soberanos”.
Nebenzia acusou as potências
ocidentais de pretenderem reparações russas na Ucrânia quando durante anos rejeitaram
a sua aceitação em outros casos, e assegurou que a concretização do texto terá
“implicações sistemáticas para as atividades da ONU”.
Entre os países que se abstiveram,
alguns indicaram ser favoráveis ao pagamento de indemnizações à Ucrânia, mas argumentaram
que a fórmula não era adequada, pelo facto de a Assembleia Geral não fornecer
detalhes sobre os mecanismos solicitados e não ter qualquer controlo nem
supervisão sobre o processo.
Outros Estados-membros consideraram a
proposta precipitada, pelo facto de a guerra prosseguir, ou questionaram o
facto de num passado recente não terem sido pagas reparações em outros
conflitos.
O Governo ucraniano tem considerado
que o pagamento de compensações de guerra é uma condição básica para qualquer
negociação de paz com a Rússia, para além da integridade territorial do país e
a perseguição dos suspeitos por crimes de guerra.
“Esta resolução aproxima-nos mais
desse objetivo”, considerou na sua intervenção o representante ucraniano.
Em paralelo, Louis Charbonneau,
diretor da organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) para a ONU,
considerou “essencial que as investigações sobre todos os ataques ilegais
contra civis e infraestruturas civis prossigam e que não exista impunidade na
Ucrânia nem em nenhuma outra situação onde se cometem crimes graves”.
A ofensiva militar lançada a 24 de
fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de
pessoas – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões
para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que
classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa – justificada pelo
Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e
desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela
generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de
armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e
económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.557 civis mortos e 10.074 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.ANG/Inforpress/Lusa
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