“Temos que começar a reforçar as instâncias do estado e
de governação”, diz Simões Pereira.
Bissau, 24 Jul 14 (ANG) – Na sua recente
passagem por Bruxelas para assinalar a retoma da cooperação entre a
Guiné-Bissau e a União Europeia interrompida devido ao golpe de estado de Abril
de 2012 o Primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira concedeu uma entrevista à secção
portuguesa da Rádio França Internacional-RFI.
Dado a importância dos esclarecimentos
que a entrevista proporcionou a redacção da Agência de Noticias da Guiné –ANG
decidiu publicar na integra a referida entrevista conforme se segue:
RFI
-O que se propõe fazer na Guiné-Bissau?
DSP- Depois de um período relativamente
difícil estamos no reforço da retoma constitucional. Queremos trabalhar para
que esse retorno não represente simplesmente o preenchimento das formalidades
da existência das instituições ou o reconhecimento das autoridades que saíram
das eleições mas que seja realmente a tradução da vontade popular no sentido de
dotar o pais de uma maior estabilidade e com base nessa estabilidade poder
constituir um futuro de desenvolvimento, de melhoria das condições de vida das
populações, estabilidade interna e relacionamento positivo com os nossos
parceiros.
RFI
– Tarefa difícil?
DSP – Vamos enfrentar muitos desafios. Só
espero que sejam desafios que congregam toda a população, todas as forças vivas
da Nação. Todas as construções que estamos a fazer são de facto muito difíceis
mas que têm um ponto de partida que é a fragilidade do estado. O estado foi-se
fragilizando e chegou a um ponto onde se questiona objectivamente a sua
existência. Temos que começar a reforçar as instâncias do estado e de
governação. Temos que ser capazes de justificar as despesas do estado através
do cumprimento de um conjunto de pressupostos. A questão da saúde é algo
fundamental, o funcionamento das escolas é muito importante. Começamos por exemplo
a pagar salários e queremos ser capazes de fazer disso uma normalidade. E a
partir do momento em que essas questões fundamentais têm um tratamento
antecipado que assegure que o estado está sério na sua abordagem, acredito que
iremos resolver muitas situações numa única vez.
RFI
– Como é que pretende fazer as reformas nas Forças Armadas?
DSP- A questão da reforma nas Forças de
Defesa e Segurança é de facto importante e especial mas tem que ser visto num
contexto de toda a reforma da Função Publica.
A questão é que, no domínio das Forças
Armadas, no passado recente já produziu situações de estabilidade que puseram
em causa toda a reforma. Por isso há necessidade de ter uma maior atenção com
esse sector.
RFI-
António Injai é acusado de ser o líder do golpe de estado de 12 de Abril e
ainda acusado pelos Estados Unidos de América. Qual é a posição do executivo em
relação a António Injai? O que é que vai fazer?
DSP – Não gostamos de particularizar. Em
relação ao António Injai também não vamos particularizar. Todos os cidadãos
guineenses sobre os quais penderem qualquer tipo de desconfiança ou de acusação
terão que responder, terão que clarificar a sua situação. Contudo todos também
devem ter a oportunidade de se sentir que a justiça lhes da oportunidade de
provar as suas inocências se for o caso. Mencionava de forma muito especifica a
questão do António Injai e devo lembrar que se nos quisermos recuar no tempo iríamos
lembrar muito mais gente envolvido ou não em várias situações que complicaram a
situação política interna do pais. Por isso, neste momento o mais importante não
é o António Injai é a estabilidade da Guiné-Bissau. Isso não vai contrariar os
princípios de que a justiça deve funcionar de forma independente e autónoma.
Eu não estou a fugir de abordar
especificamente a situação do António Injai desde 12 de Abril e outras
situações anteriores. Há um convencimento da Comunidade internacional de que a
reforma no sector da Defesa e Segurança é uma necessidade incontornável, mas é
também nesse sentido que pedimos que os nossos parceiros internacionais possam
acompanhar os esforços do governo e do estado guineense para que a materialização
desse pressuposto não crie outros desequilíbrios. Precisamos de equilíbrios, do
diálogo e da reconciliação.
RFI
– Para quando o regresso de Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior?
DSP- São cidadãos guineenses. O facto de
neste momento não puderem regressar em total liberdade para o seu país é uma
demonstração clara de que ainda não atingimos o tal ponto de equilíbrio, de
reconciliação e de segurança interna que procuramos, como gostaria de puder amanhã
dizer que já podem regressar. Espero poder dizer isso amanhã, quando ao dizer
que podem regressar garantir que há, de facto, todas as condições de segurança
para o exercício pleno dos seus direitos de cidadania.
Fim
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