As armas das oito selecções que disputam as quartas de final da Copa
Bissau, 03
Jul 14 (ANG) - Chegando às quartas de final da Copa, oito sobreviventes ainda
buscam o sonho de conquistar a taça. Das oito restantes, o duelo das
estatísticas separa as selecções em dois grupos: foram quatro as selecções que
ganharam todas as partidas disputadas até agora: Argentina, Bélgica, Colômbia e
Holanda. Além disso, quatro delas já conquistaram Mundiais, enquanto quatro
ainda buscam a glória pela primeira vez. Das que almejam o título inédito, quem
chegou mais perto foi a Holanda, vice em 1974, 1978 e 2010.
A geografia também promete um duelo acirrado, já que são quatro equipes
latino-americanas contra quatro europeias. Ao menos uma selecção de cada será
eliminada nesta fase, já que haverá França x Alemanha e Brasil x Colômbia.
Mas as curiosidades sobre os times não são a única questão. Para entender
mais sobre o que, no campo, fez com que elas chegassem às quartas – todas foram
campeãs de seus respectivos grupos –, conferimos mais a fundo as estatísticas
do que rolou no campo. Veja o que os números mostram sobre as selecções e seus
recordes nesta Copa.
BRASIL: AFOBADO, MAS TEMIDO, ESPECIALMENTE
POR CONTA DE NEYMAR
O nervosismo em campo e as imagens do choro dos jogadores
brasileiros podem se traduzir nas estatísticas também. Selecção nas quartas que
mais tomou cartões até o momento (oito amarelos), a esquadra de Felipão é a que
mais entrou em divididas, com 105, antecipando o combate. É também a mais
desarmada, com 109, expondo uma fragilidade no meio de campo. Talvez por isso o
cão de guarda Luiz Gustavo seja um dos mais faltosos, com dez infracções. Além
disso, a selecção é uma das piores em se livrar da bola, com apenas 78% de
acertos na saída de jogo sob pressão. Ainda assim, o craque da Fifa, divulgado
nesta terça, é David Luiz – que passou a sensação colombiana James Rodríguez.
Apontado pela comissão técnica como exemplo no psicológico, o jogador vem se
saindo bastante seguro: chega às quartas com apenas sete faltas e 24 bolas
recuperadas.
Apesar dos números alarmantes, a selecção é a sobrevivente que sofreu mais
faltas até agora: 72. Mesmo sendo apenas a quinta equipe em número de gols,
seis das oito bolas na rede saíram de dentro da área, em chegadas que
geralmente passam por Neymar. O camisa 10 e Oscar são muito visados pelos
marcadores, sofrendo muitas divididas (31 e 21). Junto a Luiz Gustavo, o craque
do Barcelona é caçado em campo: sofreu 14 faltas, enquanto o volante, 12. Além
disso, Neymar é líder de cruzamentos certos: 37%, a mesma média do francês
Valbuena.
COLÔMBIA: CHEGOU A VEZ?
Na edição da Copa em que realiza seu maior número de partidas na
história (fará a quinta contra o Brasil), a equipe de José Pékerman fez nada
menos que 11 golos e sofreu apenas dois, seus melhores números em toda a trajectória
colombiana em Mundiais. Segunda selecção em número de gols e líder da Copa em
saldo, o time consegue esta proeza tendo feito apenas 46 chutes a gol (11,5 por
jogo). O foco do ataque também chama atenção: a Colômbia é a selecção com
melhor média de golos por tentativas. Um golo colombiano tem saído a uma média
de 4,2 chutes.
Além disso, a ausência de Falcão Garcia parece mesmo ter sido
superada – com tranquilidade – por conta da figura de James Rodríguez. O
versátil atacante foi o craque da Copa na fase de grupos, com média oficial da
Fifa de 9,79. Artilheiro e eleito homem do jogo em três das quatro partidas que
disputou, errou a direcção de apenas um de seus 15 chutes. E ainda tem duas
assistências na conta. Mas não existe apenas James: Cuadrado é o líder
disparado de assistências, com quatro, enquanto o goleiro Ospina lidera as
defesas das oito finalistas (18). De olho neles, Felipão!
FRANÇA: FIRMEZA PELOS LADOS, MESMO SEM
RIBÉRY
Mesmo sem Franck Ribéry, cortado dias antes do início do Mundial,
a França parece ter encontrado bem seus espaços pelas pontas. Optando pelos
apoios de Mathieu Valbuena, os Bleus são apenas a terceira equipe que mais
chega ao ataque – bem atrás de Argentina e Bélgica –, mas são a segunda que
mais apoia pela direita, lado em que joga o meia do Olympique de Marselha. Ele
também é um dos líderes entre todos os jogadores da Copa quando o assunto é a
precisão dos cruzamentos, com 37% de acerto. Atrás da Argentina, a França é a selecção
que mais cruzou a bola (114 vezes). E oito de seus dez gols vieram de jogadas
com a bola rolando.
O lado esquerdo é mais discreto, variando entre o protagonismo de Benzema e
Griezmann. Os números revelam como o atacante do Real Madrid busca o jogo mais
para a área: sendo um dos mais bem cotados jogadores da Copa, Benzema é o que
mais chutou no Mundial (25 vezes). Apesar da boa movimentação, 18 de seus
chutes foram dentro da área. Foram apenas sete impedimentos de toda a equipe em
todo o Mundial, menos de dois por jogo, o que mostra a eficiência da ligação
entre meio-campo e ataque da equipe de Didier Deschamps. O bom desempenho no
ataque francês tem chamado a atenção, mas como “bola na trave não altera o
placar”, já se sabe um problema: a França acertou o poste nada menos que cinco
vezes.
ALEMANHA: O JOGO LIMPO DE UMA ‘MANNSCHAFT’
DISCRETA
Quem acha que a Alemanha ainda deve ser vista como uma selecção de
brucutus está enganado: o time de Joachim Löw levou apenas dois cartões
amarelos (Höwedes e Lahm) e nenhum vermelho, até o momento. Equipe restante com
menor número de faltas cometidas (39, contra 43 da Argentina), a Alemanha
sofreu com a improvisação de Boateng e Mustafi na linha de defesa contra a
Argélia, mas Mertesacker vem dando conta da zaga com Hummels: juntos, os dois
têm 64 recuperações de bola, mas apenas nove divididas. Hummels dá mais
combate: sete divididas, contra duas de Mertesacker, que fica mais com a sobra.
As estatísticas mostram o espírito de mannschaft(equipe) dos
alemães: sem cair no individualismo, a Alemanha é a líder de passes (3060, com
2560 completos: 84% de acerto). As trocas de passes – a maior parte saindo de
Kroos e Lahm – geralmente chegam a Thomas Müller, que fez quatro dos oito golos
germânicos. Apesar disso, o atacante não actua como centro avante de ofício,
optando por abrir o jogo e correr muito. Dos jogadores ainda no Mundial, Lahm,
Kroos e Müller se “matam” em campo: são os que mais correm, com uma média de
praticamente 35km por jogo, juntos.
ARGENTINA: MUITAS CHEGADAS E POUCAS SAÍDAS
Pode-se dizer que a selecção de Alejandro Sabella tenta muito e consegue
pouco. Com o maior número de chegadas ao ataque (248, contra 219 da Bélgica), o
segundo em chutes e a liderança em cruzamentos (acertando apenas 17%), os
argentinos fizeram apenas sete gols em quatro partidas. Os números mostram uma
realidade um pouco diferente daquela que muitos vêem na Argentina da Copa:
Lionel Messi e Ángel di María são os que mais jogam a bola na área (21 e 18
vezes), entre todas as selecções. Mas o ataque, mesmo poderoso, não se
manifesta muito efectivamente: Di María e Rojo, juntos, perderam 106 vezes a
jogada. Mas o empenho do jogador do Real Madrid é louvável: tem nada menos que
22 chutes, 18 deles no alvo. Ele alterna entre a chegada na área e os
cruzamentos (49 vezes), e seu desempenho foi premiado com o golo salvador
contra a Suíça, nas oitavas. Além das chegadas ao ataque, sofreu 17 faltas.
Sinal de que não há só Messi por lá.
Se o ataque tem enorme potencial, isto se deve ao meio campo, o motor do
time. Gago e Mascherano levam muito o jogo adiante, dividindo com os jogadores
alemães as estatísticas de melhores passes: acertaram 652 de seus 741 passes
(88%). E eles são quem mais ligam as jogadas a Lionel Messi. O craque do
Barcelona, artilheiro do time e sempre caçado em campo, escapa das faltas,
sofrendo apenas 14 das 70 sofridas por toda a equipe.
BÉLGICA: SEGURA NA DEFESA E ASSANHADA NO
ATAQUE
Quem vê o desempenho discreto da Bélgica, apesar das quatro
vitórias, acaba se surpreendendo com as chegadas da equipe de Marc Wilmots ao
ataque. Com apenas seis gols até agora, em quatro partidas, foi a que mais
chutou: 81 vezes, das quais 55 foram a gol (pouco mais de 57%). Além disso,
foram 16 impedimentos, e a Bélgica é a seleção que mais entra na aérea (23
vezes), apostando na velocidade de Hazard, Lukaku, Mertens e De Bruyne. É a selecção
sobrevivente que mais correu até agora, com 470 km (117,5 km por jogo),
apostando bastante nos ataques pela esquerda e pelo centro, em especial na
faixa do campo de Eden Hazard.
Se a Bélgica mostra serviço nas tentativas de atacar com rapidez, atrás,
ela se mostra bem segura. Thibaut Courtois, campeão espanhol com o Atlético de
Madrid e vice da Champions League, sofreu apenas dois golos em toda a Copa.
Apesar disso, é seguro dizer que ele tem sido pouco testado, fazendo apenas 12
defesas no Mundial. Além do paredão, o zagueiro Daniel van Buyten vem sendo um
dos melhores da Copa pela Fifa, além de ser líder de recuperações de bola (37)
e de bloqueios (seis). Ele também não errou uma de suas saídas de bola sequer.
HOLANDA: PARA ABRIR O OLHO DA MARCAÇÃO
Vencendo todas as partidas até a fase actual, a selecção com mais
golos no Mundial fez 11 de seus 12 com a bola em jogo. A média da Holanda é de
três bolas na rede por partida (uma a cada 30 minutos). As jogadas tratadas
como “manjadas” de Robben e Van Persie – cortando da lateral para o meio e
chutando – continuam surtindo efeito: a Holanda chegou pelos lados no ataque
110 vezes, contra 27 pelo centro. Os holandeses chutaram “apenas” 55 vezes,
pouco em relação às demais equipes, e erraram o alvo somente 14 de suas
tentativas.
O novo esquema de Louis van Gaal tem tornado a zaga mais discreta: a dupla
Vlaar e De Vrij recuperaram junta 43 bolas, mas cometeu apenas seis faltas. Dos
quatro gols que os holandeses sofreram, metade foi de pênalti – uma bobeada de
De Vrij e uma mão de Janmaat. E o goleiro Jasper Cillessen tem sido pouco
testado: fez apenas 11 defesas até agora. Pegando nas quartas a selecção menos
conhecida das oito restantes, as chances dos holandeses parecem bastante
grandes.
COSTA RICA: UM MOTORZINHO DISCRETO
A selecção mais surpreendente da Copa não chama muita atenção
pelas estatísticas, mesmo superando duas campeãs mundiais. Costa Rica chutou
apenas 32 vezes (média de oito por jogo), o menor número das sobreviventes, e
errou mais chutes do que acertou (15, contra 17). Tem o pior número de chutes a
gol de todas as oito sobreviventes. Fez apenas cinco golos, todos com a bola
rolando, mas peca pela impaciência: acabou entrando em impedimento nada menos
que 28 vezes – sete por jogo. Joel Campbell, destaque contra o Uruguai, perdeu
a bola até agora 39 vezes.
O trunfo dos costa-riquenhos está em como se comportam sem a bola. Capitão
da selecção mais faltosa da Copa até agora, com 81 infracções, Bryan Ruiz é o
sobrevivente que mais parou o jogo no Mundial, com 11 faltas e um cartão
amarelo. O meia Yeltsin Tejeda é o que mais dá combate (19 divididas e 16
recuperações). O belo desempenho do goleiro Keylor Navas não se destaca tanto
nas estatísticas: apesar das óptimas actuações, ele fez “apenas” 14 defesas,
mas sofreu meros dois golos. Assim, o sucesso de Costa Rica pode ser visto como
o contra-ataque, já que é uma selecção que correu bastante (456 km em todo o
Mundial) e recuperou a bola 181 vezes (contra uma média geral de 132), além de
superar tranquilamente o número de divididas das demais rivais.
O Globo
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