Face à lentidão
da reforma do FMI Países Emergentes procuram mais autonomia
Bissau, 16 Jul 14 (ANG) - A 6ª Cúpula dos Brics no
Brasil, que começou terça-feira (15), deve trazer detalhes sobre duas
iniciativas que visam diminuir a dependência dos organismos tradicionais,
controlados pelos países desenvolvidos.
Com a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, para
financiar projectos de infra-estrutura e desenvolvimento sustentável, e de um
fundo de reservas para socorrer os membros que estiverem em crise, os países
emergentes sonham com mais autonomia do Fundo Monetário Internacional (FMI) e
do Banco Mundial. Mas as iniciativas ainda precisam provar que serão sólidas o
suficiente para se transformar em alternativas a essas instituições.
Os presidentes e chefes de governo do Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul vão definir onde será o banco - provavelmente na
China -, e quem será o primeiro presidente da instituição, que terá um capital
inicial de US$ 50 bilhões. O Brasil gostaria de ocupar o cargo.
As iniciativas foram uma resposta dos Brics à lentidão da
reforma do FMI, que traria mais peso para as economias emergentes. “O que eles
estão sinalizando agora é um esforço conjunto para mudar o peso das moedas em
âmbito internacional e traduzir esse volume enorme de reservas internacionais
que eles têm em dólar em novas instituições, já que as reservas não se reflectem
no peso desses países nas organizações multilaterais.
Eles apontam para
o embrião de um sistema económico internacional que dê mais peso aos países em
desenvolvimento e diminua a influência e o controle dos desenvolvidos sobre a
regulação da moeda, do financiamento do desenvolvimento e dos problemas de
balança de pagamento”, explica o economista Pedro Zahluth Bastos, especialista
em desenvolvimento na Unicamp.
“No fundo, é uma tentativa de, a longuíssimo prazo,
questionar a hegemonia do dólar, de Wall Street, do Banco Mundial e do FMI no
sistema,” disse.
A criação do banco e do fundo de reservas foi anunciada
em Março do ano passado e o processo de implementação das duas instituições
ainda está distante, lembra Leane Cornet Naidin, coordenadora do Núcleo de
Desenvolvimento, Comércio, Finanças e Investimentos do Brics Policy Center.
Para ela, ainda é muito cedo para dizer se os órgãos poderão atender até países
de fora do grupo, como querem os líderes dos Brics.
“Do ponto de vista concreto, para que esse banco venha,
de fato, a ter um papel, ele precisa ser implementado com regras de eficiência económica.
Um banco dessa natureza não pode se tornar um fundo ineficiente de empréstimos
sujeito à falência, por exemplo”, destaca. “Os recursos públicos são relevantes
e precisam ser bem manejados. A gente tem que tomar cuidado para que esses objectivos
não gerem uma mera retórica.”
A agenda dos líderes reunidos em Fortaleza e Brasília
ainda inclui vários outros temas políticos e económicos, mas as negociações
comerciais ficam à margem da cúpula e ocorrem nas reuniões bilaterais. Isso
acontece porque, até o momento, os países emergentes ainda enfrentam muitas
barreiras entre si para visar um acordo comercial.
“Os países precisam superar dificuldades importantes que
eles têm na área comercial”, lamenta Naidin. “Há barreiras ao comércio em
vários segmentos, como às exportações brasileiras de carne para a Rússia. O
Brasil tem dificuldades na exportação de aeronaves da Embraer para a China. O
vinho sul-africano enfrenta barreiras no Brasil, entre outros exemplos.”
Em paralelo à cúpula, a Confederação Nacional da
Indústria (CNI) recebe 600 empresas dos países do grupo e espera movimentar US$
3,9 bilhões em negócios. “Eles podem buscar realizar joint ventures para a
realização de investimentos, em especial na infra-estrutura, no caso
brasileiro, e buscar novos acordos de exportação de produtos brasileiros para o
exterior. Também fazer acordos comerciais pontuais, como facilitar a
exportação, acordos para a protecção de investimentos mútuos, e outros”, afirma
Bastos.
AFP
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