Pesquisa indica
que 300 milhões de pessoas são ameaçadas por falta dos oceanos
Bissau, 31 out 19 (ANG) - Uma pesquisa publicada na revista
Nature Communications na terça-feira (29) alerta que as áreas costeiras, onde
atualmente vivem 300 milhões de pessoas, estarão vulneráveis já em 2050 a
inundações agravadas pelas mudanças climáticas.
As consequências neste
curto horizonte de tempo já são inevitáveis, por mais que a humanidade se
esforce para diminuir as emissões de carbono a partir de agora.
Em meados do século, no entanto, as escolhas feitas hoje
determinarão se as linhas costeiras da Terra permanecerão para as gerações
futuras, relataram os pesquisadores. Tempestades destrutivas, alimentadas por
ciclones cada vez mais poderosos e a elevação do nível dos mares atingirão
principalmente a Ásia.
Mais de dois terços das populações em risco vivem em China,
Bangladesh, Índia, Vietnã, Indonésia e Tailândia, indicou o estudo.
“É um fenômeno muito variável, de uma região para outra, e
depende muito das condições locais: em um lugar acostumado a receber pequenos
ciclones, o aumento do nível do mar pode gerar impactos maiores desses
ciclones”, explica o climatologista e membro da Academia de Ciências da França
Hervé Le Treut, em entrevista à RFI.
Usando redes neurais, um tipo de inteligência artificial, a nova
pesquisa corrige dados de elevação do solo que até agora subestimavam em grande
medida até que ponto as zonas costeiras estarão sujeitas a inundações durante a
maré alta ou grandes tempestades.
As projeções do nível do mar não mudaram – o que se sabe agora
com mais detalhes é sobre as consequências da elevação dos níveis dos mares. O
fenômeno é causado pela aceleração do derretimento das geleiras e a dilatação
dos oceanos, consequências do aquecimento global.
“É difícil nos projetarmos no futuro. Temos a tendência de
olharmos as coisas de acordo com o que vemos hoje, e não como elas podem ser”,
nota Le Treut. “Mas estamos diante de uma evolução do clima que é irremediável
e se acentua com o tempo. Não podemos deixar para agir quando já estivermos
enfrentando os problemas mais graves.”
O cientista destaca a importância de os governos de zonas litorâneas
já se prepararem, desde agora, ao avanço do mar sobre a costa – estimado a
entre 50 centímetros e 1 metro até 2100. Nos cenários mais perigosos, a
elevação pode chegar a 2 metros, apontam os estudos. Construção de diques de
proteção ou mudanças no planejamento urbano, de modo a afastar as populações do
mar, são algumas das alternativas sobre a mesa.
“Os próximos 20 anos já estão comprometidos: gases já foram
emitidos e não vão sair da atmosfera”, explica o cientista francês. “É por isso
que é importante prevermos a diminuição das emissões dos gases de efeito estufa
até o fim do século, para tentarmos fazer com as consequências sejam o menos
dramáticas possíveis, no futuro.”
Com a previsão de que a população global aumentará dois bilhões
até 2050 e mais um bilhão até 2100 - principalmente em megacidades costeiras -,
um número ainda maior de pessoas serão forçadas a se adaptar ou a sair das
zonas de perigo. Atualmente, existem mais de 100 milhões de pessoas vivendo
abaixo dos níveis de maré alta, segundo o estudo. Algumas estão protegidas por
diques, mas a maioria não.
"As mudanças climáticas têm o potencial de remodelar
cidades, economias, litorais e regiões globais inteiras durante a nossa
vida", disse o principal autor do estudo e cientista do Climate Central,
Scott Kulp.
Vários fatores se combinam para ameaçar populações que vivem a
poucos metros do nível do mar. Um deles é a expansão da água à medida que o
clima aquece e, mais recentemente, as camadas de gelo sobre a Groenlândia e a
Antártica que derramaram mais de 430 bilhões de toneladas por ano na última
década.
Desde 2006, a linha da água subiu quase quatro milímetros por
ano, um ritmo que pode aumentar cem vezes até o século 22 se as emissões de
carbono continuarem inalteradas, alertou o Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) em um relatório no mês passado.
Se o aquecimento global for limitado abaixo de dois graus
Celsius - o objetivo principal do acordo de Paris sobre o clima - o nível do
mar deverá subir cerca de meio metro até 2100.
Nas taxas atuais de poluição de carbono, no entanto, o aumento
seria quase o dobro. Um segundo ingrediente são as tempestades tropicais -
tufões, ciclones ou furacões - amplificadas por uma atmosfera quente.
As grandes tempestades que até recentemente ocorriam uma vez por
século, por volta de 2050 acontecerão em média uma vez por ano em muitos
lugares, especialmente nos trópicos, segundo o relatório do IPCC. Prevê-se que
os danos anuais das inundações costeiras aumentem de 100 a 1.000 vezes até
2100, afirmou o documento. Muitas das um bilhão de pessoas que vivem a menos de
nove metros acima do nível do mar hoje estão em áreas urbanas em risco.
ANG/RFI/AFP
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