“Assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi foi
assunto de Estado”, diz Agnes Callamard
Bissau, 31 out
19 (ANG) - A relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou
arbitrárias, Agnes Callamard, disse que não tem dúvidas de que o assassinato do
jornalista saudita Jamal Khashoggi fazia parte de “plano”.
A especialista falou a jornalistas, em
Nova Iorque, sobre o caso da morte que ocorreu no consulado da Arábia Saudita
em Istambul, na Turquia, em 22 de outubro de 2018.
As declarações de Callamard foram feitas
às margens da apresentação de relatórios de vários especialistas, que acontecem
na sede da ONU até 31 de outubro. Em documento apresentado à Assembleia Geral,
a especialista aborda como tema central a pena de morte.
Durante o ano, a perita liderou um grupo
de investigação internacional sobre o assassinato do dissidente saudita. O
perito forense português Duarte Nuno Vieira e os investigadores Helena Kennedy
e Paul Johnston também fizeram parte do grupo.
Sobre o assassinato de Jamal Khashoggi,
a especialista lamentou profundamente que a ONU não tenha aproveitado essa
oportunidade para ir mais a fundo “no entendimento sobre a cadeia de comando”
que culminou com a morte.
Callamard disse que muitos oficiais da
capital saudita estavam envolvidos na organização do que ela chamou de
“operação especial”.
A especialista afirmou que também sabe
que o que aconteceu após o assassinato envolveu autoridades em Riade, incluindo
17 sauditas que depois da morte, investigaram o ato e supostamente limparam a
cena do crime.
No documento de 100 páginas sobre a
morte de Jamal Khashoggi, Callamard e a equipe examinam provas criminais
coletadas na Turquia e em outros lugares com base na lei internacional dos
direitos humanos.
Para a especialista, há algo em comum em
todas essas informações. Ela destacou que os dados mostram que o assassinato
foi um assunto “de Estado” e que não foi “uma operação desonesta por parte de
indivíduos que decidiram um dia matar Khashoggi”.
Questionada sobre um possível
envolvimento do príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman nessa ação, ela
disse não saber se este teria dado ordens para realizar o crime, mas afirmou
haver “provas suficientes apontando para a responsabilidade dele em algum
nível. ”
Callamard explicou ainda que seu mandato
para investigar o assassinato de Khashoggi estava dentro da estrutura de
direitos humanos. Essa condição “não lhe permitia realizar uma investigação
aprofundada sobre a culpabilidade individual”.
Para ela, as Nações Unidas deveriam ter
insistido nessa questão.
*Os relatores especiais trabalham de
forma voluntária e individual, não são funcionários da ONU nem recebem salário
pelo seu trabalho na organização.ANG/ONU
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