Rússia e África discutem estratégia em Sochi
Bissau, 22 out 19 (ANG) - Líderes de pelo menos 50 países africanos
são esperados, em Sochi, para participar, de 23 a 24 deste mês, na Cimeira
África-Rússia.
Líder russo Vladimir Putin |
Trata-se de uma importante reunião para reavaliar a estratégia
de cooperação entre os governos de África e as autoridades russas, que
pretendem, com esse evento, construir novas alianças e reafirmar a sua
influência no "continente berço".
A Cimeira visa destacar a expansão da cooperação política,
económica, técnica e cultural entre África e a Rússia.
Neste encontro a Rússia procura reviver os relacionamentos da
era soviética e reforçar a sua influência global.
Prevê-se que além dos líderes de Estados tradicionalmente
parceiros deste país europeu, como Angola e Etiópia, estejam na Cimeira outros
governos cuja relação com a Rússia tem sido menos intensa, como da Nigéria e do
Ghana.
Segundo as autoridades russas, esta será a primeira Cimeira
desse nível na história das relações russo-africanas, pelo que se espera pela
presença de chefes de todos os estados de África, e de líderes das principais
associações e organizações sub-regionais.
Esse
formato de evento internacional já foi realizado pela China, pelos EUA, pela
UE, Índia, França, Turquia, Coreia do Sul e pelo Japão.
O Presidente egípcio e líder da União Africana (UA), Abdel Fattah Al-Sisi, será o co-presidente da Cimeira, a pedido de Vladimir Putin, Presidente da Rússia.
O Presidente egípcio e líder da União Africana (UA), Abdel Fattah Al-Sisi, será o co-presidente da Cimeira, a pedido de Vladimir Putin, Presidente da Rússia.
Durante as reuniões plenárias da Cimeira, pretende-se discutir
uma vasta gama de questões da agenda internacional, de maior interesse para a
Rússia e os países africanos.
A Cimeira dará atenção especial ao estado e as perspectivas das
relações da Rússia com os estados do continente africano, passando em revista o
desenvolvimento da cooperação nos domínios político, económico, humanitário e
cultural.
As partes vão tentar, no encontro, procurar formas de
desenvolvimento acelerado e sistémico de todo o conjunto da cooperação
russo-africana.
Para tal, está prevista uma troca de opiniões aprofundada sobre
a elaboração de medidas acordadas para combater o terrorismo, a criminalidade
transfronteiriça, entre outros desafios, como as ameaças à segurança regional e
global.
Com base nos resultados da Cimeira, prevê-se a aprovação de um
documento conjunto.
"É uma chance de reviver os relacionamentos da era
soviética e construir novas alianças, reforçando a influência global de Moscovo
diante do confronto com o Ocidente", escreve Vladimir Putin, no site
oficial da organização.
A ideia de realizar a primeira Cúpula Rússia-África foi iniciada
pelo presidente russo, à margem da cúpula do BRICS, em Joanesburgo, em julho de
2018.
Mas a decisão foi precedida por um longo processo de negociações
que levou cerca de 10 anos.
A reunião
deste ano surge num contexto favorável para os africanos e para a Rússia, que
mostra interesse em formar novas alianças internacionais, tendo como parceiro
estratégico África, uma das regiões económicas em desenvolvimento mais rápido
do mundo.
À margem da Cimeira, decorrerá, também em Sochi, um Fórum
Económico com a presença de líderes africanos e russos, e representantes de
grandes empresas, em que se prevê a assinatura de acordos comerciais,
econômicos e de investimento.
Segundo a organização, espera-se pela assinatura de um pacote
significativo de acordos nos domínios do comércio, economia e investimento.
O governo russo, que ainda não revelou o nome das empresas
convidadas, diz esperar por quase três mil empresários africanos para
participar deste evento.
O Fórum Económico incluirá uma sessão plenária, várias
mesas-redondas e painéis de discussão, além de uma plataforma para reuniões de
negócios.
Trata-se de uma plataforma comercial para viabilizar a criação
de condições mais favoráveis para o desenvolvimento das relações comerciais e
econômicas entre a Rússia e África, além de permitir diversificar as formas e
direcções da cooperação.
O evento contará com a presença de chefes de estado africanos,
representantes de empresas russas, africanas e internacionais, além de agências
governamentais e representantes de associações de integração do continente
africano.
No âmbito do Fórum Económico Rússia-África, será organizada uma
exposição, com a participação dos parceiros e vários expositores.
O evento será uma plataforma chave para demonstrar os êxitos e
as potencialidades nas esferas da economia, ciência, cultura e protecção do
meio-ambiente.
Os expositores apresentarão projectos marcantes e as tecnologias
avançadas nas indústrias de mineração, química e de construção de máquinas, no
sector de energia, agricultura, transportes, na esfera de saúde, além do
militar-industrial.
A amostra deve abarcar outras áreas de interesse para os
investidores e para o desenvolvimento do potencial de exportação da Rússia e
dos países de África.
As perspectivas e os formatos da cooperação russo-africana na
esfera da indústria serão discutidos pelos participantes do Fórum Económico
Rússia-África.
O foco está nos pontos de crescimento, projectos conjuntos de
longo prazo e zonas económicas, que são exemplos de localização eficaz da
produção.
Uma das formas mais promissoras de cooperação entre a Rússia e
África pode ser o trabalho no âmbito das zonas económicas, uma vez que as
cadeias produtivas modernas sofrem alterações, fazendo a produção ficar cada
vez mais perto dos consumidores finais.
Os especialistas do Fórum discutirão essas e outras questões a
23 de Outubro no painel de discussão "Rússia-África: novos formatos de
cooperação. Possibilidades de zonas econômicas especiais no exemplo do projecto
da zona industrial russa no Egipto.
Terão de avaliar as condições para implantar "pontos de
entrada" na infra-estrutura, isto é, regimes preferenciais nas zonas
económicas especiais (livres) em que se produzem produtos competitivos e de
alta tecnologia e qualidade.
Os participantes do Fórum discutirão oportunidades de cooperação
na utilização dos recursos minerais, na sessão "Geologia Russa em África:
Património e um Olhar para o Futuro", que será realizada como parte do
programa de negócios em 24 de Outubro.
A discussão contará com a presença de Dmitry Kobylkin, ministro
dos Recursos Naturais e Meio-Ambiente da Rússia; Diamantino Azevedo, ministro
dos Recursos Minerais e Petróleo de Angola; e Adil Ali Ibrahim, ministro de
Energia e Mineração do Sudão.
África é rica em minerais e detém o primeiro lugar no mundo no
tocante às reservas de manganês, cromita, bauxita, ouro, platina, cobalto,
diamantes, fosforitas, além de importantes depósitos de petróleo, gás natural,
grafite e amianto.
Entretanto, essas riquezas ainda não foram muito estudadas e,
para aproveitar os recursos naturais, os países precisam de sérios
conhecimentos teóricos e práticos nesta área, sendo este um importante domínio
de cooperação com a Rússia.
Com efeito, as empresas russas têm uma experiência excepcional
de exploração geológica e podem fornecer assistência inestimável aos seus
parceiros africanos.
À margem do Fórum Económico, está também agendado um festival
gastronómico "Discover Russian Cuisine", com eventos de degustação e
demonstração, que decorrerá também em Sochi, de 23 a 24 de Outubro.
O festival demonstrará aos convidados e participantes do Fórum toda
a variedade da cultura gastronómica da Rússia e as suas especialidades
regionais.
Uma equipa dos melhores cozinheiros-mestres russos e
estrangeiros mostrará a diversificada culinária russa, combinando produtos
locais e gostos tradicionais com modernas tecnologias culinárias.
Cozinheiros famosos demonstrarão as suas habilidades no formato
da mesa de "chef’s table" e "master classes" abertas.
O programa inclui a apresentação gastronómica "Histórias do
Mar Negro", demonstrada por Andrei Savenkov e Artur Vidins, uma exibição
franco-belga dos mestres da gastronomia Michel Lenz e Roland Debus, e uma
apresentação requintada do chef russo Nikita Prikhodko.
Nos dias do Fórum, Sochi receberá mais de três mil convidados de
50 países africanos, muitos deles visitarão este país pela primeira vez, pelo
que, durante o evento, serão realizadas degustações de bebidas e apresentações
de pratos russos exclusivos, feitos com produtos nacionais em empresas russas.
A propósito da Cimeira e do Fórum Económico, o porta-voz de Vladimir
Putin, Dmitry Peskov, afirmou recentemente que a Rússia sempre esteve presente
em África, sublinhando ser um continente muito importante no quadro da
estratégia externa da Rússia.
"A Rússia tem coisas a oferecer em termos de cooperação
mutuamente benéfica para os países africanos", declarou, antes do começo
dessa importante Cimeira.
Já o Presidente do Egipto e da União Africana, Abdel Fattah
Al-Sisi, enfatiza numa mensagem de saudação aos participantes, que é o primeiro
evento do género durante o actual período de grandes transformações globais e
internacionais.
Observa que os países africanos têm um enorme potencial e
oportunidades que, com a optimização, lhes permitirão tornar-se numa das
potências económicas emergentes.
Na última década, África conseguiu avanços no que diz respeito
ao crescimento, que chegou a 3,55 por cento em 2018.
Na Cimeira da União Africana no Níger, em Julho de 2019, entrou
em vigor o Acordo Continental Africano de Livre Comércio, incluindo o
lançamento de respectivas ferramentas. ANG/Angop
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