segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

CPLP



                 Crise do preço do Petróleo afectou o mercado lusófono

Bissau, 09 Jan 17 (ANG) - A crise do preço do petróleo que afecta os mercados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), como Angola, Moçambique e Brasil, acabou por atrasar a maioria das metas definidas para a criação de uma verdadeira comunidade económica, revelou à imprensa lusa o secretário executivo cessante. 

Murade Murargy, que passa a pasta hoje para a sua sucessora, a são-tomense Maria do Carmo Silveira, disse que, apesar dos atrasos verificados, existe vontade política suficiente para a concretização da comunidade económica. 

A última cimeira da CPLP, que decorreu em Brasília, teve enfoque nesta área e, “ao contrário do que eu estava à espera, o Brasil está muito empenhado em que a vertente económica e empresarial seja uma realidade”, reconheceu.

Na opinião de Murade Murargy, é preciso inverter a percepção mundial acerca de alguns dos países membros da CPLP, nomeadamente africanos, vistos como meros “receptores de doação e ajuda internacional“, e que devem trabalhar para serem encarados como países que podem participar na construção do bem-estar da comunidade. 

Para o executivo, Moçambique é um dos Estados membros que devem mudar esse paradigma. “Tem um potencial enorme e ao longo dos últimos anos tem descoberto recursos que não se sabia que existiam, mas a crise internacional afectou o país, bem como a instabilidade política que permanece e que é preciso resolver, e a dívida”, considera.

 Murade Murargy acredita nas previsões para um alavancar do crescimento económico, no primeiro ou no segundo trimestre deste ano, de Moçambique.

 “Estou em crer que será um virar de página no desenvolvimento económico deste país. Aliás, as empresas que estão a negociar os acordos para a exploração de gás no país estão hoje mais alinhadas e convencidas de que é preciso avançar”, disse. 

Mas, para isso, “Moçambique precisa que a confiança se volte a estabelecer, no governo e nas instituições do Estado”, alerta, comentando os últimos casos de corrupção conhecidos no país e que afastaram os doadores internacionais. 

O futuro constrói-se com transparência, economia e conhecimento, considera Murade Murargy. “Neste mandato, a primeira meta alcançada foi ter conseguido que os governos reflectissem sobre o futuro da CPLP, e não foi fácil. Foi preciso traçar um plano para os próximos dez anos.»

“A segunda conquista passou por todos terem consciência de que sem o desenvolvimento humano não há desenvolvimento económico dos países”, referiu o moçambicano que adverte os Estados membros no sentido de apostarem na capacitação das pessoas, na partilha do conhecimento e na mobilidade no ­espaço (embora ainda não esteja a funcionar).

 A terceira meta alcançada pela CPLP foi a aceitação e a consagração da vertente económica empresarial nos princípios e nos pilares da CPLP.

Na estratégia de dez anos, na componente económica, destaca-se o potencial energético dos países, desde o gás ao petróleo, mas também recursos minerais; a agricultura, o turismo e o comércio internacional, através de ligações marítimas, sectores em que, no entender do secretário executivo cessante, a comunidade pode ser uma potência mundial.
 “Os mares e oceanos são outra das vertentes consagradas na nova visão estratégica para a CPLP”, acrescenta. 

“É preciso fazer mais, estruturar melhor a vertente económica e empresarial dentro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Falta saber o que os governos devem e querem fazer para ajudar os empresários a tirarem proveito de todo o potencial que existe. E isso está ligado à mobilidade.” 

A facilitação dos vistos para os empresários e livre circulação é um desafio apontado por Murade Murargy. Já existem alguns protocolos, “mas é preciso fazer mais, por exemplo, cada país ter uma lista dos empresários todos que podem ter acesso a esses vistos, e isso é difícil. Encontrar uma solução é o nosso grande desafio”, sublinha. 

O embaixador insiste na importância do desenvolvimento humano para o futuro e apela para que os países mais avançados apoiem os menos avançados para se atingirem os níveis de desenvolvimento.

 “É preciso continuar a projectar a CPLP no palco do mundo. Tornar a CPLP cada vez mais credível, mais visível. É fundamental também fazer que a juventude se aproxime mais da CPLP”, advoga quem considera a segurança alimentar e nutricional como preocupação que menos atenção tem merecido nos grandes projectos da comunidade.

“É necessário que governos e empresários trabalhem juntos, primeiro a partir de cada país e depois tentando harmonizar as políticas. Ainda há muito a fazer”, diz em jeito de mensagem à sua sucessora.
ANG/JA

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