Descoberta de crânio
de australopiteco de 3,8 milhões de anos
Bissau, 29 ago 19 (ANG) - O crânio de um australopiteco
(Australopithecus) de 3,8 milhões de anos, em estado "notavelmente
completo", foi descoberto na Etiópia.
A descoberta, revelada por estudos divulgados na quarta-feira ,
abala, mais uma vez, nossa visão da evolução da espécie.
"Este crânio é um dos mais completos fósseis de hominídeos
de mais de 3 milhões de anos", disse Yohannes Haile-Selassie, do Museu de
História Natural de Cleveland, nos Estados Unidos, coautor de dois estudos
publicados na revista "Nature". Em um comentário no periódico, Fred
Spoor, do Museu de História Natural de Londres, o estudioso completa que a
descoberta pode "se tornar um novo ícone da evolução humana", ao lado
dos célèbres "Toumaï", "Ardi" e "Lucy".
Comparativamente, o esqueleto Toumaï (um Sahelanthropus
tchadensis), considerado por alguns paleontólogos como o primeiro representante
da linhagem humana, tem cerca de 7 milhões de anos. Foi encontrado no Chade, em
2001.
Descoberto na Etiópia, Ardi (ou Ardipithecus ramidus, uma outra
espécie de hominídeo) teria 4,5 milhões de anos, e Lucy, a Australopiteco mais
conhecida, descoberta na Etiópia em 1974, tem 3,2 milhões de anos. Outros
fósseis de Australopiteco, menos conhecidos, têm no mínimo 3,9 milhões de anos,
mas apenas o maxilar e os dentes foram encontrados. Sem o crânio, nossa
compreensão da evolução desses hominídeos extintos permanecia muito parcial.
Descoberto em fevereiro de 2016 no sítio de Woranso-Mille, na
região de Afar, na Etiópia (a 55 quilômetros de onde estava Lucy), este novo
fóssil, chamado MRD, pertencia a um dos primeiros Australopitecos, os Australopithecus
anamensis.
"Achávamos que o A. anamensis (MRD) se transformava
progressivamente em A. afarensis (Lucy) com o tempo", explica Stephanie
Melillo, do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, na Alemanha,
coautor dos dois estudos. Mas esta última descoberta bagunça o tabuleiro do que
se sabia até então, mostrando que as duas espécies teriam se cruzado nas
savanas de Afar durante cerca de 100.000 anos.
“Isso muda nossa compreensão do processo de evolução e destaca
novas questões: estavam em competição pelo alimento, ou pelo espaço?",
pergunta Stephanie Melillo.
Ainda que bem pequeno, o crânio deve ser o de um adulto, do
gênero masculino a priori. Reconstituições faciais feitas com base em
características do fóssil revelam um hominídeo com as maçãs projetadas, maxilar
proeminente, nariz largo e testa estreita.
Para surpresa dos pesquisadores, o crânio se apresenta como uma
mistura de características próprias dos Sahelanthropus, como o Toumaï, e dos
Ardipithecus, como o Ardi, mas também de outras espécies mais
"recentes". "Até hoje, havia um grande abismo entre os
ancestrais humanos mais antigos, que têm cerca de 6 milhões de anos, e de
espécies como a Lucy, que têm três milhões de anos", relata Stephanie
Melillo, para quem esta descoberta "reconecta o espaço morfológico entre
estes dois grupos".
Em um primeiro momento, apenas seu maxilar era visível.
"Não acreditei nos meus olhos quando vi o resto do crânio", lembra
Yohannes Haile-Selassie, que descreve "um momento eureka", "um
sonho que se tornou realidade". ANG/RFI
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