França/ONU acusa Rússia de usar violações na Ucrânia como estratégia deliberada
Bissau,
14 Out 22(ANG) – As violações e agressões sexuais atribuídas às forças russas
na Ucrânia constituem claramente “uma estratégia militar” e “uma táctica
deliberada para desumanizar as vítimas”, alertou hoje a Representante Especial
da ONU para Violência Sexual em Conflito, Pramila Patten.
“Quando
mulheres e meninas são sequestradas e violadas durante dias, quando se vê
violar meninos e homens, quando se vê uma série de casos de mutilação genital,
quando se ouve os depoimentos de mulheres evocando soldados russos equipados
com Viagra, [percebe-se que] há, claramente, uma estratégia militar”, explicou
a advogada das Nações Unidas, em entrevista à agência francesa de notícias AFP.
“As
evidências estão todas lá”, garantiu, adiantando que “há casos horríveis e
violência muito brutal” no terreno.
Segundo
referiu, os primeiros casos de violência sexual surgiram “três dias após o
início da invasão da Ucrânia [em 24 de Fevereiro]”.
De
acordo com os dados mais recentes, a ONU verificou “mais de 100 casos” de
violações e agressões sexuais na Ucrânia desde o início da guerra, mas “isto
não é uma questão de números”, sublinhou Patten.
“É
muito complicado ter estatísticas fiáveis durante um conflito activo, além de
que os números nunca reflectem a realidade, porque a violência sexual é um
crime silencioso, o menos denunciado e o menos condenado”, explicou a
responsável da ONU, alegando que há sempre medo de represálias e de
estigmatização.
“Os
casos relatados representam apenas a ponta do ‘iceberg’”, assegurou.
As
vítimas são principalmente mulheres e meninas, mas também meninos e homens,
avançou Pramila Patten, citando um relatório divulgado no final de Setembro
pela comissão internacional independente de inquérito (criada por uma resolução
do Conselho de Segurança da ONU).
Este
relatório “confirmou crimes contra a humanidade cometidos pelas forças russas
e, de acordo com depoimentos recolhidos, a idade das vítimas de violência
sexual varia entre os 4 e os 82 anos. Há muitos casos de violência sexual
contra crianças, que são violadas, torturadas e raptadas”, sublinha.
“A
minha luta contra a violência sexual é, de facto, uma luta contra a
impunidade”, considerou Pramila Patten, explicando que foi por essa razão que
foi para a Ucrânia em Maio passado.
“Para
enviar um sinal, um sinal forte para as vítimas, para lhes dizer que estamos
com elas e para lhes pedirmos que quebrem o silêncio. Mas também para enviar um
forte sinal aos violadores, [dizer-lhes que] o mundo os observa e que não
ficará sem consequências a violação de uma mulher, de uma menina, de um homem
ou de um menino”.
A
violação como arma de guerra existe em todos os conflitos, desde a Bósnia à
Guiné e à República Democrática do Congo (RDC), mas, segundo Patten, a guerra
na Ucrânia marca “uma consciencialização” internacional.
“Há
agora uma vontade política de lutar contra a impunidade e há um consenso sobre
o facto de as violações serem usadas como táctica militar e de terror”,
referiu.
Uma
outra grande preocupação avançada pela representante da ONU é o tráfico de
pessoas.
“Mulheres,
meninas e crianças que fugiram da Ucrânia são muito, muito vulneráveis, e, para
os predadores, o que está a acontecer neste país não é uma tragédia, é uma
oportunidade”, avisa. ANG/Inforpress/Lusa
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